UEL
"Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza."
Sou pastor; não te nego; os meus montados
São esses,
que aí vês; vivo contente
Ao trazer
entre a relva florescente
A doce
companhia do meu gado.
ITA
Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes oiteiros;
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte rico, e fino.
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia,
Que da Cidade o lisonjeiro encanto;
Aqui descanse a louca fantasia;
E o que té agora se tornava em pranto,
Se converta em afetos de alegria.
Dadas as asserções:
I - O poema manifesta o conflito do poeta, homem nativista
provinciano, ligado à terra natal, cuja formação superior deu-se na metrópole.
II - O poema mostra como o autor soube explorar a
característica principal do Arcadismo: a celebração da vida urbana pelo
intelectual, consciente das dificuldades da vida no campo.
III - O poema manifesta a preocupação do poeta com os
problemas sociais da época: transferência de riquezas da colônia para a
metrópole, oriundas da pecuária e empobrecimento do homem do campo.
está(ão) correta(s):
a) Apenas a I.
b) Apenas a II.
c) I e II.
d) I e III.
e) II e III.
UNIFESP
TEXTO I:
"O Vale de Santarém é um destes lugares privilegiados
pela natureza, sítios amenos e deleitosos em que as plantas, o ar, a situação,
tudo está numa harmonia suavíssima e perfeita; não há ali nada grandioso nem
sublime, mas há uma como simetria de cores, de sons, de disposição em tudo
quanto se vê e se sente, que não parece senão que a paz, a saúde, o sossego do
espírito e o repouso do coração devem viver ali, reinar ali um reinado de amor
e benevolência. (...) Imagina-se por aqui o Éden que o primeiro homem habitou
com a sua inocência e com a virgindade do seu coração.
À esquerda do vale, e abrigado do norte pela montanha que
ali se corta quase a pique, está um maciço de verdura do mais belo viço e
variedade. (...)
Para mais realçar a beleza do quadro, vê-se por entre um
claro das árvores a janela meio aberta de uma habitação antiga, mas não
dilapidada - (...) A janela é larga e baixa; parece mais ornada e também mais
antiga que o resto do edifício, que todavia mal se vê..."
(Almeida
Garrett, "Viagens na minha terra".)
TEXTO II:
"Depois, fatigado do esforço supremo, [o rio] se
estende sobre a terra, e adormece numa linda bacia que a natureza formou, e
onde o recebe como um leito de noiva, sob as cortinas de trepadeiras e flores
agrestes.
A vegetação nessas paragens ostentava outrora todo o seu
luxo e vigor; florestas virgens se estendiam ao longo das margens do rio, que
corria no meio das arcarias de verdura e dos capitéis formados pelos leques das
palmeiras.
Tudo era grande e pomposo no cenário que a natureza, sublime
artista, tinha decorado para os dramas majestosos dos elementos, em que o homem
é apenas um simples comparsa. (...)
Entretanto, via-se à margem direita do rio uma casa larga e
espaçosa, construída sobre uma eminência e protegida de todos os lados por uma
muralha de rocha cortada a pique."
(José de
Alencar, "O guarani".)
TEXTO III:
"Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado:
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!
Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes."
(Cláudio
Manuel da Costa, "Sonetos-VII".)
EXTO I:
Ao longo do sereno
Tejo, suave e brando,
Num vale de altas árvores sombrio,
Estava o triste Almeno
Suspiros espalhando
Ao vento, e doces lágrimas ao rio.
(Luís de
Camões, "Ao longo do sereno".)
TEXTO II:
Bailemos nós ia todas tres, ay irmanas,
so aqueste ramo destas auelanas
e quen for louçana, como nós, louçanas,
se amigo amar,
so aqueste ramo destas auelanas
uerrá baylar.
(Aires
Nunes. In Nunes, J. J., "Crestomatia arcaica".)
TEXTO III:
Tão cedo passa tudo quanto passa!
morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
(Fernando
Pessoa, "Obra poética".)
TEXTO IV:
Os privilégios que os Reis
Não podem dar, pode Amor,
Que faz qualquer amador
Livre das humanas leis.
mortes e guerras cruéis,
Ferro, frio, fogo e neve,
Tudo sofre quem o serve.
(Luís de
Camões, "Obra completa".)
TEXTO V:
As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!...)
(Mário de
Sá Carneiro, "Poesias".)
O motivo do "carpe diem" ("aproveita o
dia", em latim) expressa, em geral, o gosto de viver plenamente a vida, de
usufruir os dons da beleza e a energia da juventude, enquanto o tempo permitir.
Esse motivo aparece nos textos
a) I e II.
b) II e III.
c) III e IV.
d) IV e V.
e) I e V.
UFSCAR
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado.
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!
Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.
Eu me engano: a região esta não era:
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!
(Cláudio
Manuel da Costa. "Sonetos (VlI)". In: RAMOS, Péricles Eugênio da
Silva (Intr., sel. e notas): POESIA DO OUTRO - ANTOLOGIA. São Paulo:
Melhoramentos, 1964, p. 47.)
O estilo neoclássico, fundamento do Arcadismo brasileiro, de
que fez parte Cláudio Manuel da Costa, caracteriza-se pela utilização das
formas clássicas convencionais, pelo enquadramento temático em paisagem
bucólica pintada como lugar aprazível, pela delegação da fala poética a um
pastor culto e artista, pelo gosto das circunstâncias comuns, pelo vocabulário
de fácil entendimento e por vários outros elementos que buscam adequar a
sensibilidade, a razão, a natureza e a beleza. Dadas estas informações,
a) indique qual a forma convencional clássica em que se
enquadra o poema.
b) transcreva a estrofe do poema em que a expressão da
natureza aprazível, situada no passado, domina sobre a expressão do sentimento
da personagem poemática.