segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Arcadismo ITA- UNIFESP- UEL- UFSCAR




UEL
"Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza."

Sou pastor; não te nego; os meus montados
            São esses, que aí vês; vivo contente
            Ao trazer entre a relva florescente
            A doce companhia do meu gado.
ITA

Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes oiteiros;
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte rico, e fino.

Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.

Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia,
Que da Cidade o lisonjeiro encanto;

Aqui descanse a louca fantasia;
E o que té agora se tornava em pranto,
Se converta em afetos de alegria.

Dadas as asserções:

I - O poema manifesta o conflito do poeta, homem nativista provinciano, ligado à terra natal, cuja formação superior deu-se na metrópole.
II - O poema mostra como o autor soube explorar a característica principal do Arcadismo: a celebração da vida urbana pelo intelectual, consciente das dificuldades da vida no campo.
III - O poema manifesta a preocupação do poeta com os problemas sociais da época: transferência de riquezas da colônia para a metrópole, oriundas da pecuária e empobrecimento do homem do campo.

está(ão) correta(s):
a) Apenas a I.
b) Apenas a II.
c) I e II.
d) I e III.
e) II e III.


UNIFESP
TEXTO I:
"O Vale de Santarém é um destes lugares privilegiados pela natureza, sítios amenos e deleitosos em que as plantas, o ar, a situação, tudo está numa harmonia suavíssima e perfeita; não há ali nada grandioso nem sublime, mas há uma como simetria de cores, de sons, de disposição em tudo quanto se vê e se sente, que não parece senão que a paz, a saúde, o sossego do espírito e o repouso do coração devem viver ali, reinar ali um reinado de amor e benevolência. (...) Imagina-se por aqui o Éden que o primeiro homem habitou com a sua inocência e com a virgindade do seu coração.
À esquerda do vale, e abrigado do norte pela montanha que ali se corta quase a pique, está um maciço de verdura do mais belo viço e variedade. (...)
Para mais realçar a beleza do quadro, vê-se por entre um claro das árvores a janela meio aberta de uma habitação antiga, mas não dilapidada - (...) A janela é larga e baixa; parece mais ornada e também mais antiga que o resto do edifício, que todavia mal se vê..."
            (Almeida Garrett, "Viagens na minha terra".)


TEXTO II:
"Depois, fatigado do esforço supremo, [o rio] se estende sobre a terra, e adormece numa linda bacia que a natureza formou, e onde o recebe como um leito de noiva, sob as cortinas de trepadeiras e flores agrestes.
A vegetação nessas paragens ostentava outrora todo o seu luxo e vigor; florestas virgens se estendiam ao longo das margens do rio, que corria no meio das arcarias de verdura e dos capitéis formados pelos leques das palmeiras.
Tudo era grande e pomposo no cenário que a natureza, sublime artista, tinha decorado para os dramas majestosos dos elementos, em que o homem é apenas um simples comparsa. (...)
Entretanto, via-se à margem direita do rio uma casa larga e espaçosa, construída sobre uma eminência e protegida de todos os lados por uma muralha de rocha cortada a pique."
            (José de Alencar, "O guarani".)


TEXTO III:
"Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado:
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes."
            (Cláudio Manuel da Costa, "Sonetos-VII".)


EXTO I:
Ao longo do sereno
Tejo, suave e brando,
Num vale de altas árvores sombrio,
Estava o triste Almeno
Suspiros espalhando
Ao vento, e doces lágrimas ao rio.
            (Luís de Camões, "Ao longo do sereno".)

TEXTO II:
Bailemos nós ia todas tres, ay irmanas,
so aqueste ramo destas auelanas
e quen for louçana, como nós, louçanas,
se amigo amar,
so aqueste ramo destas auelanas
uerrá baylar.
            (Aires Nunes. In Nunes, J. J., "Crestomatia arcaica".)

TEXTO III:
Tão cedo passa tudo quanto passa!
morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
            (Fernando Pessoa, "Obra poética".)

TEXTO IV:
Os privilégios que os Reis
Não podem dar, pode Amor,
Que faz qualquer amador
Livre das humanas leis.
mortes e guerras cruéis,
Ferro, frio, fogo e neve,
Tudo sofre quem o serve.
            (Luís de Camões, "Obra completa".)

TEXTO V:
As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!...)
            (Mário de Sá Carneiro, "Poesias".)
O motivo do "carpe diem" ("aproveita o dia", em latim) expressa, em geral, o gosto de viver plenamente a vida, de usufruir os dons da beleza e a energia da juventude, enquanto o tempo permitir. Esse motivo aparece nos textos
a) I e II.
b) II e III.
c) III e IV.
d) IV e V.
e) I e V.


UFSCAR

Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado.
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.

Eu me engano: a região esta não era:
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!

            (Cláudio Manuel da Costa. "Sonetos (VlI)". In: RAMOS, Péricles Eugênio da Silva (Intr., sel. e notas): POESIA DO OUTRO - ANTOLOGIA. São Paulo: Melhoramentos, 1964, p. 47.)

O estilo neoclássico, fundamento do Arcadismo brasileiro, de que fez parte Cláudio Manuel da Costa, caracteriza-se pela utilização das formas clássicas convencionais, pelo enquadramento temático em paisagem bucólica pintada como lugar aprazível, pela delegação da fala poética a um pastor culto e artista, pelo gosto das circunstâncias comuns, pelo vocabulário de fácil entendimento e por vários outros elementos que buscam adequar a sensibilidade, a razão, a natureza e a beleza. Dadas estas informações,

a) indique qual a forma convencional clássica em que se enquadra o poema.

b) transcreva a estrofe do poema em que a expressão da natureza aprazível, situada no passado, domina sobre a expressão do sentimento da personagem poemática.


UNICAMP - 2008 - 2ª FASE


UNICAMP 2008 – 2ª FASE – LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA

QUESTÃO 1

(Gonsales, Fernando, “Níquel Náusea”. Folha de São Paulo on line em www.uol.com.br/niquel)

a) No primeiro quadrinho, a menção a ‘palavrões’ constrói uma expectativa que é quebrada no segundo quadrinho.
Mostre como ela é produzida, apontando uma expressão relacionada a ‘palavrões’, presente no primeiro quadrinho, que ajuda na construção dessa expectativa.

b) No segundo quadrinho, o cômico se constrói justamente pela quebra da expectativa produzida no quadrinho anterior. Entretanto, embora a relação pressuposta no primeiro quadrinho se mantenha, ela passa a ser entendida num outro sentido, o que produz o riso. Explique o que se mantém e o que é alterado no segundo quadrinho em termos de pressupostos e relações entre as palavras.

.

QUESTÃO 2

A carta abaixo reproduzida foi publicada em outubro de 2007, após declaração sobre a legalização do aborto feita por Sérgio Cabral, governador do Estado do Rio de Janeiro.
Sobre a declaração do governador fluminense, Sérgio Cabral, de que “as mães faveladas são uma fábrica de produzir marginais”, cabe indagar: essas mães produzem marginais apenas quando dão à luz ou também quando votam?
(Juarez R. Venitez, Sacramento-MG, seção Painel do Leitor, Folha de São Paulo, 29/10/2007.)

a) Há uma forte ironia produzida no texto da carta. Destaque a parte do texto em que se expressa essa ironia.
Justifique.

b) Nessa ironia, marca-se uma crítica à declaração do governador do Rio de Janeiro. Entretanto, em função da presença de uma construção sintática, a crítica não incorre em uma oposição. Indique a construção sintática que relativiza essa crítica. Justifique.



QUESTÃO 3

O seguinte enunciado está presente em uma campanha publicitária de provedor de Internet:
Finalmente um líder mundial de Internet que sabe a diferença entre acabar em pizza e acabar em pizza. Terra. A Internet do Brasil e do mundo.

a) A propaganda joga com um duplo sentido da expressão “acabar em pizza”. Qual é o duplo sentido?

b) A propaganda trabalha com esse duplo sentido para construir a imagem de um provedor que se insere em âmbitos internacional e nacional. De que modo a expressão “acabar em pizza” ajuda na construção dessa
imagem?



Os versos seguintes fazem parte do poema “Um chamado João” de Carlos Drummond de Andrade em homenagem póstuma a João Guimarães Rosa. Trabalhe as questões 4 e 5 a partir da leitura do poema.

Um chamado João
João era fabulista?
fabuloso?
fábula?
Sertão místico disparando
no exílio da linguagem comum?

Projetava na gravatinha
a quinta face das coisas
inenarrável narrada?
Um estranho chamado João
para disfarçar, para farçar
o que não ousamos compreender?
(...)
Mágico sem apetrechos,
civilmente mágico, apelador
de precípites prodígios acudindo
a chamado geral?
(...)
Ficamos sem saber o que era João
e se João existiu
deve pegar.

(Carlos Drummond de Andrade, em Correio da Manhã, 22/11/1967, publicado
em Rosa, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.)

QUESTÃO 4

a) No título, ‘chamado’ sintetiza dois sentidos com que a palavra aparece no poema. Explique esses dois sentidos, indicando como estão presentes nas passagens em que ‘chamado’ se encontra.

b) Na primeira estrofe do poema, ‘fábula’ é derivada em ‘fabulista’ e ‘fabuloso’. Mostre de que modo a formação morfológica e a função sintática das três palavras contribuem para a formação da imagem de Guimarães Rosa.



QUESTÃO 5

Na segunda estrofe, há dois processos muito interessantes de associação de palavras. Em “inenarrável/narrada” encontramos claramente um processo de derivação. Em “disfarçar/farçar”, temos a sugestão de um processo semelhante, embora ‘farçar’ não conste dos dicionários modernos.
a) Relacione o significado de ‘inenarrável’ com o processo de sua formação; e o de ‘farçar’, na relação sugerida no poema, com ‘disfarçar’.

b) Explique como esses processos contribuem na construção dos sentidos dessa estrofe.


QUESTÃO 6

O texto abaixo é extraído de artigo jornalístico no qual se comparam duas notícias que chamaram a atenção da imprensa brasileira no mês de outubro de 2007: de um lado, o caso entre o senador Renan Calheiros e a jornalista Mônica Veloso; de outro, o artigo em que o apresentador de TV Luciano Huck expressa sua indignação contra o roubo de seu relógio Rolex.

Aparentemente, o que aproxima todos esses personagens é a disputa por um objeto de desejo. No caso dos assaltantes de Huck, por estar no pulso de um “bacana”, mais que um relógio, o objeto em questão aparece como um equivalente geral que pode dar acesso a outros objetos (...). Presente de sua mulher, a igualmente famosa apresentadora global Angélica, um relógio desse calibre é sinal de prestígio, indicando um lugar social que, no Brasil, costuma “abrir portas” raras vezes franqueadas à maior parte da população. (...) Mais afinado com as tradições patriarcais de seu estado natal, Renan aparece nos noticiários, bem de acordo com a chamada “preferência nacional” dos anúncios de cerveja. Daí que não seja possível, em ambos os episódios, associar os casos em questão àquele “obscuro objeto de desejo” que dá título a um dos mais instigantes filmes de Luís Buñuel. Tratavase, para o cineasta, de mostrar como um desejo singular, único, podia engendrar um objeto de grande opacidade. Em direção oposta, tanto na parceria Calheiros/Veloso, quanto no confronto Huck/assaltantes, há uma espécie de exibição ostensiva dos objetos em jogo, como que marcando a coincidência de desejos que perderam sua singularidade para cair na vala comum das banalidades.
(Adaptado de Eliane Robert Moraes, Folha de São Paulo, 14/10/2007, grifos nossos.)

a) Um dos usos de aspas é o de destacar elementos no texto. Explique a finalidade desse destaque nas seguintes expressões presentes no texto: “bacana”, “abrir portas” e “preferência nacional”.

b) No caso de “obscuro objeto de desejo”, as aspas marcam o título de um filme de Buñuel. Explique como a referência a esse título estabelece uma oposição fundamental para a argumentação do texto.




QUESTÃO 7

O poema abaixo, de Carlos Drummond de Andrade, pertence ao livro A rosa do povo (1945), que reúne composições
escritas na época da Segunda Guerra Mundial e da ditadura do Estado Novo no Brasil:

Passagem da Noite



É noite. Sinto que é noite
não porque a sombra descesse
(bem me importa a face negra)
mas porque dentro de mim,
no fundo de mim, o grito
se calou, fez-se desânimo.
Sinto que nós somos noite,
que palpitamos no escuro
e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento,
noite nas águas, na pedra.
E que adianta uma lâmpada?
E que adianta uma voz?
É noite no meu amigo.
É noite no submarino.
É noite na roça grande.
É noite, não é morte, é noite
de sono espesso e sem praia.
Não é dor, nem paz, é noite,
é perfeitamente a noite.
Mas salve, olhar de alegria!
E salve, dia que surge!
Os corpos saltam do sono,
o mundo se recompõe.
Que gozo na bicicleta!
Existir: seja como for.
A fraterna entrega do pão.
Amar: mesmo nas canções.
De novo andar: as distâncias,


as cores, posse das ruas.
Tudo que à noite perdemos
se nos confia outra vez.
Obrigado, coisas fiéis!
Saber que ainda há florestas,
sinos, palavras; que a terra
prossegue seu giro, e o tempo
não murchou; não nos diluímos!
Chupar o gosto do dia!
Clara manhã, obrigado,
o essencial é viver!











a) Explique o sentido metafórico da noite e o uso do verbo sentir, na 1ª- estrofe.

b) Explique o sentido metafórico do dia e o sentimento a ele associado, na 2ª- estrofe.



QUESTÃO 8

Na seguinte passagem do capítulo LXXX (“Venhamos ao capítulo”), de Dom Casmurro, o narrador trata da promessa feita por D. Glória.

Um dos aforismos de Franklin é que, para quem tem de pagar na páscoa, a quaresma é curta. A nossa quaresma não foi mais longa que as outras, e minha mãe, posto me mandasse ensinar latim e doutrina, começou a adiar a minha entrada no seminário. É o que se chama, comercialmente falando, reformar uma letra. O credor era arquimilionário, não dependia daquela quantia para comer, e consentiu nas transferências de pagamento, sem querer agravar a taxa do juro. Um dia, porém, um dos familiares que serviam de endossantes da letra, falou da necessidade de entregar o preço ajustado; está num dos capítulos primeiros. Minha mãe concordou e recolhi-me a S.José.

a) Quem lembrou D. Glória da promessa e qual seu vínculo com a família dela?

b) Explique o uso da linguagem comercial no trecho citado anteriormente e no romance.



QUESTÃO 9

O poema abaixo pertence a O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro:

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

(Fernando Pessoa, Obra Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1983, p.142.)

a) Explique a oposição estabelecida entre a aldeia e a cidade.

b) De que maneira o uso do verso livre reforça essa oposição?





QUESTÃO 10

O trecho abaixo pertence ao capítulo VIII de A cidade e as serras, em que se narra a viagem de Jacinto a Tormes.

Trepávamos então alguma ruazinha de aldeia, dez ou doze casebres, sumidos entre figueiras, onde se esgaçava, fugindo do lar pela telha-vã o fumo branco e cheiroso das pinhas. Nos cerros remotos, por cima da negrura pensativa dos pinheirais, branquejavam ermidas. O ar fino e puro entrava na alma, e na alma espalhava alegria e força. Um esparso tilintar de chocalhos de guizos morria pelas quebradas...
Jacinto adiante, na sua égua ruça, murmurava:
— Que beleza!
E eu atrás, no burro de Sancho, murmurava:
— Que beleza!
Frescos ramos roçavam os nossos ombros com familiaridade e carinho.

(Eça de Queiroz, Obra Completa. Beatriz Berrini (org.). Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1997, Vol.II, pp. 561, grifos nossos.)

a) O que o trecho revela da visão de Jacinto sobre a aldeia e que afinidade existe entre essa visão e a de Alberto Caeiro no poema da questão anterior.

b) Explique a relação entre o protagonista e a paisagem nas duas frases sublinhadas.



QUESTÃO 11

Leia o seguinte trecho do capítulo “Contas”, de Vidas Secas.

Tinha a obrigação de trabalhar para os outros, naturalmente, conhecia do seu lugar. Bem. Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se lhe dissessem que era possível melhorar de situação, espantar-se-ia. (...) Era a sina. O pai vivera assim, o avô também. E para trás não existia família. Cortar mandacaru, ensebar látegos — aquilo estava no sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada. Se lhe dessem o que era dele, estava certo. Não davam. Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos.
Por que seria que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias.

(Graciliano Ramos, Vidas Secas. 103ª. ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2007, p.97.)

a) Que visão Fabiano tem de sua própria condição? Justifique.

b) Explique a referência que ele faz aos “homens ricos” com base no enredo do livro.



QUESTÃO 12

O trecho abaixo pertence ao capítulo XXII (“Empenhos”), de Memórias de um Sargento de Milícias.

Isto tudo vem para dizermos que Maria-Regalada tinha um verdadeiro amor ao Major Vidigal; o Major pagava-lho na mesma moeda. Ora, D. Maria era uma das camaradas mais do coração de Maria-Regalada. Eis aí porque falando dela D. Maria e a comadre se mostraram tão esperançadas a respeito da sorte do Leonardo.
Já naquele tempo (e dizem que é defeito do nosso) o empenho, o compadresco, era uma mola real de todo o movimento social.

(Manuel Antonio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias. Mamede Mustafá Jarouche (org.). Cotia: Ateliê Editorial, 2000, p. 319.)

a) Explique o “defeito” a que o narrador se refere.

b) Relacione o “defeito” com esse episódio, que envolveu o Major Vidigal e as três mulheres.







Que os judeus no Brasil se conscientizem disso!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Apimentário: Delírios sexuais juvenis




Photo candid on set of "Streetcar Named D...
Photo candid on set of "Streetcar Named Desire", left to right, Karl Malden, Kim Hunter, Kazan, Marlon Brando, Vivien Leigh, Rudy Bond (Photo credit: Wikipedia)
Directing Natalie Wood and Warren Beatty, 1961
Elia Kazan é um dos maiores diretores norte-americanos de todos os tempos, suas obras são magníficas, abordando sempre temas polêmicos e relevantes. Citando alguns de seus melhores trabalhos, "A Luz é Para Todos" aborda o anti-semitismo, trazendo Gregory Peck como um jornalista que se passa por um judeu; "Sindicato de Ladrões" tem um tema político, estrelando Marlon Brando como um ex-boxeador que luta contra um sindicato de corruptos; "Vidas Amargas" retrata o drama de um jovem (James Dean) e sua dificuldade de relacionamento com o pai e "Uma Rua Chamada Pecado", com certeza o seu filme com o maior peso dramático, é a película com aspectos bastante semelhantes ao filme criticado aqui, sexualmente falando.
"Clamor do Sexo", depois de "Uma Rua", é o filme mais polêmico de Kazan. Os belíssimos Bud (Warren Beatty) e Deani (Natalie Wood) são jovens que formam um casal apaixonado no final dos anos 20, um ano antes da Grande Depressão. Bud é herdeiro de uma grande companhia de petróleo, já Deani é filha de um doceiro, mas a diferença econômica não é nem de longe o principal fator que vai interferir em seu relacionamento. E qual é então o fator principal? O simples e puro desejo sexual. Ora, estamos falando dos anos 20, uma época em que uma garota 'de família' não podia nem cogitar a idéia de transar com seu namorado antes do casamento, por mais que o desejo aflorasse. Na verdade, o desejo da mulher tinha que ser totalmente reprimido, como diz a mãe de Deani à filha: - Só fazemos essas coisas para satisfazer os nossos maridos, para reprodução. A mulher não sente tanta vontade quanto o homem. Com esse diálogo, vemos que realmente muita coisa mudou em menos de cem anos, e a década de 20 seria o ponto de partida para as grandes mudanças ocorridas nesse século....

Trecho do texto de Gian Luca para ler o texto completo acesso o link - Clamor do Sexo
Poema de Wordsworth declamado por Deani no fim do filme:

"What though the radiance which was once so bright Be now for ever taken from my sight, Though nothing can bring back the hour Of splendour in the grass, of glory in the flower; We will grieve not, rather find Strength in what remains behind"
 ~
Tradução.
“O que de esplendor outrora tão brilhante agora seja tomado de minha vista para sempre. Apesar que nada pode trazer de volta a hora de esplendor na relva, de glória numa flor, não nos afligiremos. Encontraremos forças no que ficou para trás.” Wordsworth


Apimentário: Delírios sexuais juvenis: Elia Kazan já tinha a consciência que falar de sexo não é simples, ainda mais quando o senso volta-se ao universo da juventude — com toda su...

José

José

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Respostas – 2ª FASE DO MODERNISMO



Respostas – MODERNISMO - Geração de 1930

1) (FUVEST) Em determinada época, o romance brasileiro "procurou (...) enraizar fortemente as suas histórias e os seus personagens em espaços e tempos bem circunscritos, extraindo de situações culturais típicas a sua visão do Brasil."
                        ( Alfredo Bosi )
                       
Esta afirmação aplica-se a
a) Vidas Secas e Fogo Morto.
b) Macunaíma e A Hora da Estrela.
c) A Hora da Estrela e Serafim Ponte Grande.
d) Fogo Morto e Serafim Ponte Grande.
e) Vidas Secas e Macunaíma.

2) (UNITAU) O estilo conciso, a linguagem sóbria, a técnica da interiorização e a análise psicológica caracterizam-no, principalmente em sua obra "Angústia".
Trata-se de:
a) Jorge Amado.
b) Érico Veríssimo.
c) Graciliano Ramos.
d) José Lins do Rego.
e) Clarice Lispector.

3) (UFPE) " A natureza representou a afirmação do nacionalismo brasileiro, nos períodos romântico e modernista."
Partindo deste pressuposto, assinale a alternativa incorreta.
a) "O exotismo e a exuberância da natureza brasileira tanto inspiraram os autores românticos quanto os modernistas."
b) "O ufanismo nacionalista foi explorado no Romantismo, enquanto no Modernismo havia, para o nacionalismo, uma perspectiva crítica."
c) "Para os românticos, a natureza exerceu profundo fascínio; nela eles viam a antítese da civilização que os oprimia."
d) "No Modernismo, os princípios nacionalistas defendidos por seus representantes incluíam o culto à natureza, comprometido com a visão européia de mundo."
e) "Nas várias tendências do movimento modernista, a natureza não se apresenta transfigurada, mas real. Os modernistas não se consideravam nacionalistas exaltados só pelo simples fato de serem brasileiros. Antes de mais nada, não tinham medo de falar dos males do Brasil."

4) (UFPE) Nos poemas, contos e romances cuja temática é nordestina, a literatura moderna apresenta a NATUREZA quase sempre inóspita, agressiva. Qual dos fragmentos não justifica esta afirmação?

a) "Chegariam a uma terra desconhecida e civiliza-da, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos como Fabiano, sinhá Vitória e os dois meninos."            (Graciliano Ramos, em "VIDAS SECAS").
b) "Há uma miséria maior do que morrer de fome    no deserto: é não ter o que comer na terra de Canaã."     (José Américo de Almeida, em "A BAGACEIRA")
c) "Tirei mandioca de chãsque o vento vive a esfolare de outras escalavradaspela seca faca solar"     (João Cabral de Melo Neto, em "MORTE E VIDA SEVERINA")
d) "Debaixo de um juazeiro grande, todo um bando de retirantes se arranchara (...) Em toda a extensão da vista, nem uma outra árvore surgia. Só aquele velho juazeiro, devastado e espinhento, verdejaria a copa hospitaleira na desolação cor de cinza da paisagem "         (Rachel de Queiroz, em "O QUINZE")
e) "Este açúcar veiode uma usina de açúcar em Pernambuco(...)Este açúcar era canae veio dos canaviais extensosque não nascem por acasono regaço do vale."    (Ferreira Gullar em "O AÇÚCAR")

5) (UEL) Na década de 30, revelaram-se escritores que souberam revitalizar as conquistas estéticas e culturais da primeira fase do Modernismo, tais como os autores de
a) SAGARANA e LAÇOS DE FAMÍLIA.
b) MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR e CONTOS NOVOS.
c) TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA e CANAÃ.
d) MENINO DE ENGENHO e O QUINZE.
e) PAULICÉIA DESVAIRADA e MARTIM-CERERÊ.

6) (UNESP) A partir da leitura dos seguintes poemas, assinale a alternativa INCORRETA com relação ao Modernismo.

I - VÍCIO DA FALA
"Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados."
                        (Oswald de Andrade)

II - POEMA DO BECO
"Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o beco."
                        (Manuel Bandeira)

III - FESTA FAMILIAR
"Em outubro de 1930
Nós fizemos - que animação!
Um pic-nic com carabinas."
                        (Murilo Mendes)

IV - COTA ZERO
"Stop
A vida parou
ou foi o automóvel?"
                        (Carlos Drummond de Andrade)

a) Os poemas quando não se fixam em uma cena da vida cotidiana podem refletir sobre a nossa história com muito humor e ironia.
b) Predomínio do verso livre e cultivo de uma poesia sintética.
c) Introdução da fala popular e elementos característicos da prosa.
d) Os poemas mostram claramente uma ruptura com os códigos literários anteriores na forma; no conteúdo buscam penetrar mais fundo na realidade brasileira.
e) As experiências de linguagem desses poemas modernistas tentam resgatar o formalismo e a riqueza sonora da poesia parnasiana.

7) (UECE) É traço do Modernismo brasileiro:
a) o conformismo temático e estilístico
b) rigidez formal, principalmente na poesia
c) apego a temas bíblicos e formas parnasianas
d) liberdade de expressão no conteúdo e na forma

8) (CESGRANRIO) Toda época literária mantém um diálogo com fases anteriores, tanto em relação à escolha temática quanto em relação ao aproveitamento de recursos formais. Qual a observação INCORRETA na relação entre os estilos de época?
a) A poesia da década de 1930 filia-se à experiência do Parnasianismo.
b) O romance de 30 aprofunda a perspectiva do Realismo.
c) A poesia concreta valoriza os processos lúdicos do Barroco.
d) O Modernismo de 22 redimensiona a preocupação nacionalista do Romantismo.
e) A poesia de 45 rompe com a liberdade formal do Modernismo.

9) (FAAP) Texto I

"Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
            Gonçalves Dias

Texto II

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
                        Murilo Mendes

O texto II pertence ao estilo de época do:
a) modernismo
b) dadaísmo
c) futurismo
d) pré-modernismo
e) simbolismo

10) (PUCMG)
"O poeta come amendoim"
                        (A Carlos Drummond de Andrade)

Noites pesadas de cheiros e calores  amontoados...
Foi o sol que por todo o sítio imenso do Brasil
Andou marcando de moreno os brasileiros.

Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer...
(...)

A gente ainda não sabia se governar...
Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma fatalidade...
Será o que Nosso Senhor quiser!...
Estou com desejos de desastres...
(...)

Brasil...
Mastigado na gostosura quente do amendoim
Falando numa língua curumim
De palavras incertas num remeleixo melando melancólico...
Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons...
                                               (Mário de Andrade)

O texto dado pertence ao estilo de época Modernismo, porque:
a) revela que a literatura absorveu a linguagem coloquial.
b) apresenta pontuação expressiva como um texto romântico, herança fundamental do estilo.
c) exalta a inspiração poética em detrimento do trabalho poético.
d) evidencia ufanismo com crítica mordaz.
e) comprova o vínculo com o passado no que se refere aos aspectos formais.

11) (UFRS) Assinale a afirmação correta sobre o Romance de 30.
a) Predominou, entre os autores, uma preocupação de renovação estética seguindo os padrões da vanguarda literária européia.
b) Na obra de José Lins do Rego, predomina a narrativa curta na recriação do modo de vida dos senhores de engenho.
c) Os autores, em suas obras, tematizaram os problemas sociais com o intuito de denunciar as agruras das populações menos favorecidas.
d) O caráter regionalista dos romances deste período deve-se à reprodução fiel do linguajar típico de cada região.
e) A obra de Jorge Amado pode ser considerada uma exceção, no conjunto da época, porque seus romances apresentam uma grande inovação na estrutura narrativa.

12) (MACKENZIE) Assinale a alternativa na qual aparece um trecho que NÃO pode ser creditado a qualquer escritor da prosa modernista dos anos trinta.
a) Já não pareciam condenados a trabalhos forçados: assimilavam o interesse da produção. E o senhor de engenho premiava-lhes as iniciativas adquirindo-lhes os produtos a bom preço.

b) Clape-clape. As alpercatas batiam no chão rachado. O corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco. Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia! Engano.

c) Toda gente tinha achado estranha a maneira como o Capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde, com o chapéu barbicado puxado para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida, e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas.

d) Explico ao senhor: o diabo vive dentro do homem, os crespos do homem - ou é o homem arruinado, ou o homem dos avêssos. Sôlto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! - é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco - é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Êste caso - por estúrdio que me vejam - é de minha certa importância.

e) Antônio Balduíno fala. Ele não está fazendo discurso, gente. Está é contando o que viu na sua vida de malandro. Narra a vida dos camponeses nas plantações de fumo, o trabalho dos homens sem mulheres, o trabalho das mulheres nas fábricas de charuto. Perguntem ao Gordo se pensarem que é mentira. Conta o que viu. Conta que não gostava de operário, de gente que trabalhava.