segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Lista de exercícios – Trovadorismo



TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES.
(Unesp 2004) Cantiga

Bailemos nós já todas três, ai amigas,
So aquestas avelaneiras frolidas, (frolidas = floridas)
E quem for velida, como nós, velidas, (velida = formosa)
Se amigo amar,
So aquestas avelaneiras frolidas (aquestas = estas)
Verrá bailar. (verrá = virá)

Bailemos nós já todas três, ai irmanas, (irmanas = irmãs)
So aqueste ramo destas avelanas, (aqueste = este)
E quem for louçana, como nós, louçanas, (louçana = formosa)
Se amigo amar,
So aqueste ramo destas avelanas (avelanas = avelaneiras)
Verrá bailar.

Por Deus, ai amigas, mentr'al non fazemos, (mentr'al = enquanto outras coisas)

So aqueste ramo frolido bailemos,
E quem bem parecer, como nós parecemos (bem parecer = tiver belo aspecto)

Se amigo amar,
So aqueste ramo so lo que bailemos
Verrá bailar.
            (Aires Nunes, de Santiago. In: SPINA, Segismundo. Presença da Literatura Portuguesa - I. Era Medieval. 2ª ed. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1966.)

Confessor Medieval
(1960)
Irias à bailia com teu amigo,
Se ele não te dera saia de sirgo? (sirgo = seda)

Se te dera apenas um anel de vidro
Irias com ele por sombra e perigo?

Irias à bailia sem teu amigo,
Se ele não pudesse ir bailar contigo?

Irias com ele se te houvessem dito
Que o amigo que amavas é teu inimigo?

Sem a flor no peito, sem saia de sirgo,
Irias sem ele, e sem anel de vidro?

Irias à bailia, já sem teu amigo,
E sem nenhum suspiro?
            (Cecília Meireles. Poesias completas de Cecília Meireles - v. 8. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.)
1. Tanto na cantiga como no poema de Cecília Meireles verificam-se diferentes personagens: um eu-poemático, que assume a palavra, e um interlocutor ou interlocutores a quem se dirige. Com base nesta informação, releia os dois poemas e, a seguir,
a) indique o interlocutor ou interlocutores do eu-poemático em cada um dos textos.
b) identifique, em cada poema, com base na flexão dos verbos, a pessoa gramatical utilizada pelo eu-poemático para dirigir-se ao interlocutor ou interlocutores.

2. A leitura da cantiga de Aires Nunes e do poema Confessor Medieval, de Cecília Meireles, revela que este poema, mesmo tendo sido escrito por uma poeta modernista, apresenta intencionalmente algumas características da poesia trovadoresca, como o tipo de verso e a construção baseada na repetição e no paralelismo.
Releia com atenção os dois textos e, em seguida,
a) considerando que o efeito de paralelismo em cada poema se torna possível a partir da retomada, estrofe a estrofe, do mesmo tipo de frase adotado na estrofe inicial (no poema de Aires Nunes, por exemplo, a retomada da frase imperativa), aponte o tipo de frase que Cecília Meireles retomou de estrofe a estrofe para possibilitar tal efeito.
b) estabeleça as identidades que há entre o terceiro verso da cantiga de Aires Nunes e o terceiro verso do poema de Cecília Meireles no que diz respeito ao número de sílabas e às posições dos acentos.

3. As cantigas que focalizam temas amorosos apresentam-se em dois gêneros na poesia trovadoresca: as "cantigas de amor", em que o eu-poemático representa a figura do namorado (o "amigo"), e as "cantigas de amigo", em que o eu-poemático representa a figura da mulher amada (a "amiga") falando de seu amor ao "amigo", por vezes dirigindo-se a ele ou dialogando com ele, com outras "amigas" ou, mesmo, com um confidente (a mãe, a irmã, etc.). De posse desta informação,
a) classifique a cantiga de Aires Nunes em um dos dois gêneros, apresentando a justificativa dessa resposta.
b) identifique, levando em consideração o próprio título, a figura que o eu-poemático do poema de Cecília Meireles representa.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES.
(Unesp 95) SEDIA LA FREMOSA SEU SIRGO TORCENDO
                                                                  
            Sedia la fremosa seu sirgo torcendo,
            Sa voz manselinha fremoso dizendo
            Cantigas d'amigo.

            Sedia la fremosa seu sirgo lavrando,
            Sa voz manselinha fremoso cantando
            Cantigas d'amigo.

            - Par Deus de Cruz, dona, sey que avedes
            Amor muy coytado que tan ben dizedes
            Cantigas d'amigo.

            Par Deus de Cruz, dona, sey que andades
            D'amor muy coytada que tan ben cantades
            Cantigas d'amigo.

            - Avuytor comestes, que adevinhades,
                  (Estêvão Coelho, Cantiga n°321 - CANC. DA VATICANA)

     ESTAVA A FORMOSA SEU FIO TORCENDO
                             (paráfrase de Cleonice Berardinelli)

            Estava a formosa seu fio torcendo,
            Sua voz harmoniosa, suave dizendo
            Cantigas de amigo.

            Estava a formosa sentada, bordando,
            Sua voz harmoniosa, suave cantando
            Cantigas de amigo.

            - Por Jesus, senhora, vejo que sofreis
            De amor infeliz, pois tão bem dizeis
            Cantigas de amigo.

            Por Jesus, senhora, eu vejo que andais
            Com penas de amor, pois tão bem cantais
            Cantigas de amigo.

            - Abutre comeste, pois que adivinhais.
            (in BERARDINELLI, Cleonice. CANTIGAS DE TROVADORES MEDIEVAIS EM POTUGUÊS MODERNO. Rio de Janeiro: Organ. Simões, 1953, pp. 58-59.)

4. O paralelismo é um dos recursos estilísticos mais comuns na poesia lírico-amorosa trovadoresca. Consiste na ênfase de uma ideia central, às vezes repetindo expressões idênticas, palavra por palavra, em séries de estrofes paralelas. A partir destas observações, releia o texto de Estêvão Coelho e responda:
a) O poema se estrutura em quantas séries de estrofes paralelas? Identifique-as.
b) Que ideias centrais são enfatizadas em cada série paralelística?

5. Considerando-se que o último verso da cantiga caracteriza um diálogo entre personagens; considerando-se que a palavra "abutre" grafava-se "avuytor", em português arcaico; e considerando-se que, de acordo com a tradição popular da época, era possível fazer previsões e descobrir o que está oculto, comendo carne de abutre, mediante estas três considerações:
a) Identifique o personagem que se expressa em discurso direto, no último verso do poema;
b) Interprete o significado do último verso, no contexto do poema.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
(Unifesp 2002)

TEXTO I:
Ao longo do sereno
Tejo, suave e brando,
Num vale de altas árvores sombrio,
Estava o triste Almeno
Suspiros espalhando
Ao vento, e doces lágrimas ao rio.
            (Luís de Camões, "Ao longo do sereno".)

TEXTO II:
Bailemos nós ia todas tres, ay irmanas,
so aqueste ramo destas auelanas
e quen for louçana, como nós, louçanas,
se amigo amar,
so aqueste ramo destas auelanas
uerrá baylar.
            (Aires Nunes. In Nunes, J. J., "Crestomatia arcaica".)

TEXTO III:     
Tão cedo passa tudo quanto passa!
morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
            (Fernando Pessoa, "Obra poética".)

TEXTO IV:
Os privilégios que os Reis
Não podem dar, pode Amor,
Que faz qualquer amador
Livre das humanas leis.
mortes e guerras cruéis,
Ferro, frio, fogo e neve,
Tudo sofre quem o serve.
            (Luís de Camões, "Obra completa".)

TEXTO V:
As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei.
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!...)
            (Mário de Sá Carneiro, "Poesias".)

6. A alternativa que indica texto que faz parte da poesia medieval da fase trovadoresca é
a) I.                 b) II.                c) III.               d) IV.              e) V.


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
(Faap 96) SONETO DE SEPARAÇÃO

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
                                                (Vinícius de Morais)

 7. Releia com atenção a última estrofe:
Fez-se de amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Tomemos a palavra AMIGO. Todos conhecem o sentido com que esta forma lingüística é usualmente empregada no falar atual. Contudo,  na Idade Média, como se observa nas cantigas medievais, a palavra AMIGO significou:
a) colega                     b) companheiro                      c) namorado                d) simpático                e) acolhedor

8. (Mackenzie 97) Assinale a alternativa INCORRETA a respeito das cantigas de amor.
a) O ambiente é rural ou familiar.
b) O trovador assume o eu-lírico masculino: é o homem quem fala.
c) Têm origem provençal.
d) Expressam a "coita" amorosa do trovador, por amar uma dama inacessível.
e) A mulher é um ser superior, normalmente pertencente a uma categoria social mais elevada que a do trovador.

9. (Mackenzie 98) Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é INCORRETO afirmar que:
a) refletiu o pensamento da época, marcada pelo teocentrismo, o feudalismo e valores altamente moralistas.
b) representou um claro apelo popular à arte, que passou a ser representada por setores mais baixos da sociedade.
c) pode ser dividida em lírica e satírica.
d) em boa parte de sua realização, teve influência provençal.
e) as cantigas de amigo, apesar de escritas por trovadores, expressam o eu-lírico feminino.

10. (Unesp 89) Assinale a alternativa INCORRETA com relação à Literatura Portuguesa:
a) O ambiente das cantigas de amor é sempre o palácio, com o trovador declarando seu amor por uma dama (tratada de "senhor", isto é, senhora). Daí o relacionamento respeitoso, cortês, dentro dos mais puros padrões medievais que caracterizam a vassalagem, a servidão amorosa.
b) o teatro vicentino é basicamente caracterizado pela sátira, criticando o comportamento de todas as camadas sociais: a nobreza, o clero e o povo. Gil Vicente não tem preocupação de fixar tipos psicológicos, e sim a de fixar tipos sociais.
c) o marco inicial do Romantismo em Portugal é a publicação do poema "Camões". Todavia, a nova estética literária só viria a se firmar uma década depois com a Questão Coimbrã, quando se aceitou o papel revolucionário da nova poesia e a independência dos novos poetas em relação aos velhos mestres.
d) Eça de Queirós, em sua obra, dedica-se a montar um vasto painel da sociedade portuguesa, retratada em seus múltiplos aspectos: a cidade provinciana; a influência do clero; a média e a alta burguesia de Lisboa; os intelectuais e a aristocracia.

e) A mais rica, densa e intrigante faceta da obra de Fernando Pessoa diz respeito ao fenômeno da heteronímia que deu aos poetas Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos biografias, características, traços de personalidade e formação cultural diferentes.

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