TEXTO PARA AS
PRÓXIMAS 3 QUESTÕES.
(Unesp 2004) Cantiga
Bailemos nós já
todas três, ai amigas,
So aquestas
avelaneiras frolidas, (frolidas = floridas)
E quem for
velida, como nós, velidas, (velida = formosa)
Se amigo amar,
So aquestas
avelaneiras frolidas (aquestas = estas)
Verrá bailar.
(verrá = virá)
Bailemos nós já
todas três, ai irmanas, (irmanas = irmãs)
So aqueste ramo
destas avelanas, (aqueste = este)
E quem for
louçana, como nós, louçanas, (louçana = formosa)
Se amigo amar,
So aqueste ramo
destas avelanas (avelanas = avelaneiras)
Verrá bailar.
Por Deus, ai
amigas, mentr'al non fazemos, (mentr'al = enquanto outras coisas)
So aqueste ramo
frolido bailemos,
E quem bem
parecer, como nós parecemos (bem parecer = tiver belo aspecto)
Se amigo amar,
So aqueste ramo
so lo que bailemos
Verrá bailar.
(Aires Nunes, de Santiago. In:
SPINA, Segismundo. Presença da Literatura Portuguesa - I. Era Medieval. 2ª ed. São Paulo:
Difusão Europeia do Livro, 1966.)
Confessor Medieval
(1960)
Irias à bailia
com teu amigo,
Se ele não te
dera saia de sirgo? (sirgo = seda)
Se te dera
apenas um anel de vidro
Irias com ele
por sombra e perigo?
Irias à bailia
sem teu amigo,
Se ele não
pudesse ir bailar contigo?
Irias com ele
se te houvessem dito
Que o amigo que
amavas é teu inimigo?
Sem a flor no
peito, sem saia de sirgo,
Irias sem ele,
e sem anel de vidro?
Irias à bailia,
já sem teu amigo,
E sem nenhum
suspiro?
(Cecília Meireles. Poesias completas
de Cecília Meireles - v. 8. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.)
1. Tanto na cantiga como no poema de
Cecília Meireles verificam-se diferentes personagens: um eu-poemático, que
assume a palavra, e um interlocutor ou interlocutores a quem se dirige. Com
base nesta informação, releia os dois poemas e, a seguir,
a) indique o interlocutor ou
interlocutores do eu-poemático em cada um dos textos.
b) identifique,
em cada poema, com base na flexão dos verbos, a pessoa gramatical utilizada
pelo eu-poemático para dirigir-se ao interlocutor ou interlocutores.
2. A leitura da cantiga de Aires
Nunes e do poema Confessor Medieval, de Cecília Meireles, revela que este
poema, mesmo tendo sido escrito por uma poeta modernista, apresenta
intencionalmente algumas características da poesia trovadoresca, como o tipo de
verso e a construção baseada na repetição e no paralelismo.
Releia com atenção os dois textos e,
em seguida,
a) considerando que o efeito de
paralelismo em cada poema se torna possível a partir da retomada, estrofe a
estrofe, do mesmo tipo de frase adotado na estrofe inicial (no poema de Aires
Nunes, por exemplo, a retomada da frase imperativa), aponte o tipo de frase que
Cecília Meireles retomou de estrofe a estrofe para possibilitar tal efeito.
b) estabeleça
as identidades que há entre o terceiro verso da cantiga de Aires Nunes e o
terceiro verso do poema de Cecília Meireles no que diz respeito ao número de
sílabas e às posições dos acentos.
3. As cantigas que focalizam temas
amorosos apresentam-se em dois gêneros na poesia trovadoresca: as
"cantigas de amor", em que o eu-poemático representa a figura do
namorado (o "amigo"), e as "cantigas de amigo", em que o
eu-poemático representa a figura da mulher amada (a "amiga") falando
de seu amor ao "amigo", por vezes dirigindo-se a ele ou dialogando
com ele, com outras "amigas" ou, mesmo, com um confidente (a mãe, a
irmã, etc.). De posse desta informação,
a) classifique a cantiga de Aires
Nunes em um dos dois gêneros, apresentando a justificativa dessa resposta.
b) identifique,
levando em consideração o próprio título, a figura que o eu-poemático do poema
de Cecília Meireles representa.
TEXTO PARA AS
PRÓXIMAS 2 QUESTÕES.
(Unesp 95)
SEDIA LA FREMOSA SEU SIRGO TORCENDO
Sedia la fremosa seu sirgo torcendo,
Sa voz manselinha fremoso dizendo
Cantigas d'amigo.
Sedia la fremosa seu sirgo lavrando,
Sa voz manselinha fremoso cantando
Cantigas d'amigo.
- Par Deus de Cruz, dona, sey que
avedes
Amor muy coytado que tan ben dizedes
Cantigas
d'amigo.
Par Deus de Cruz, dona, sey que
andades
D'amor muy coytada que tan ben cantades
Cantigas
d'amigo.
- Avuytor comestes, que adevinhades,
(Estêvão Coelho, Cantiga n°321 - CANC. DA VATICANA)
ESTAVA A FORMOSA SEU FIO TORCENDO
(paráfrase de Cleonice Berardinelli)
Estava a formosa seu fio torcendo,
Sua voz harmoniosa, suave dizendo
Cantigas de amigo.
Estava a formosa sentada, bordando,
Sua voz harmoniosa, suave cantando
Cantigas de amigo.
- Por Jesus, senhora, vejo que
sofreis
De amor infeliz, pois tão bem dizeis
Cantigas de amigo.
Por Jesus, senhora, eu vejo que
andais
Com penas de amor, pois tão bem
cantais
Cantigas de amigo.
- Abutre comeste, pois que
adivinhais.
(in BERARDINELLI, Cleonice. CANTIGAS
DE TROVADORES MEDIEVAIS EM POTUGUÊS MODERNO. Rio de Janeiro: Organ. Simões,
1953, pp. 58-59.)
4. O
paralelismo é um dos recursos estilísticos mais comuns na poesia lírico-amorosa
trovadoresca. Consiste na ênfase de uma ideia central, às vezes repetindo
expressões idênticas, palavra por palavra, em séries de estrofes paralelas. A
partir destas observações, releia o texto de Estêvão Coelho e responda:
a) O poema se
estrutura em quantas séries de estrofes paralelas? Identifique-as.
b) Que ideias
centrais são enfatizadas em cada série paralelística?
5.
Considerando-se que o último verso da cantiga caracteriza um diálogo entre
personagens; considerando-se que a palavra "abutre" grafava-se
"avuytor", em português arcaico; e considerando-se que, de acordo com
a tradição popular da época, era possível fazer previsões e descobrir o que
está oculto, comendo carne de abutre, mediante estas três considerações:
a) Identifique
o personagem que se expressa em discurso direto, no último verso do poema;
b) Interprete o
significado do último verso, no contexto do poema.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO
(Unifesp 2002)
TEXTO I:
Ao longo do
sereno
Tejo, suave e
brando,
Num vale de
altas árvores sombrio,
Estava o triste
Almeno
Suspiros
espalhando
Ao vento, e
doces lágrimas ao rio.
(Luís de Camões, "Ao longo do
sereno".)
TEXTO II:
Bailemos nós ia
todas tres, ay irmanas,
so aqueste ramo
destas auelanas
e quen for
louçana, como nós, louçanas,
se amigo amar,
so aqueste ramo
destas auelanas
uerrá baylar.
(Aires Nunes. In Nunes, J. J.,
"Crestomatia arcaica".)
TEXTO III:
Tão cedo passa
tudo quanto passa!
morre tão jovem
ante os deuses quanto
Morre! Tudo é
tão pouco!
Nada se sabe,
tudo se imagina.
Circunda-te de
rosas, ama, bebe
E cala. O mais
é nada.
(Fernando Pessoa, "Obra
poética".)
TEXTO IV:
Os privilégios
que os Reis
Não podem dar,
pode Amor,
Que faz
qualquer amador
Livre das
humanas leis.
mortes e
guerras cruéis,
Ferro, frio,
fogo e neve,
Tudo sofre quem
o serve.
(Luís de Camões, "Obra
completa".)
TEXTO V:
As minhas
grandes saudades
São do que
nunca enlacei.
Ai, como eu
tenho saudades
Dos sonhos que
não sonhei!...)
(Mário de Sá Carneiro,
"Poesias".)
6. A
alternativa que indica texto que faz parte da poesia medieval da fase
trovadoresca é
a) I. b) II. c) III. d)
IV. e) V.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO
(Faap 96)
SONETO DE SEPARAÇÃO
De repente do
riso fez-se o pranto
Silencioso e
branco como a bruma
E das bocas
unidas fez-se a espuma
E das mãos
espalmadas fez-se o espanto.
De repente da
calma fez-se o vento
Que dos olhos
desfez a última chama
E da paixão
fez-se o pressentimento
E do momento
imóvel fez-se o drama.
De repente, não
mais que de repente
Fez-se de
triste o que se fez amante
E de sozinho o
que se fez contente
Fez-se do amigo
próximo o distante
Fez-se da vida
uma aventura errante
De repente, não
mais que de repente.
(Vinícius de Morais)
7. Releia com atenção a última estrofe:
Fez-se de amigo
próximo o distante
Fez-se da vida
uma aventura errante
De repente, não
mais que de repente.
Tomemos a
palavra AMIGO. Todos conhecem o sentido com que esta forma lingüística é
usualmente empregada no falar atual. Contudo,
na Idade Média, como se observa nas cantigas medievais, a palavra AMIGO
significou:
a) colega b) companheiro c) namorado d) simpático e) acolhedor
8. (Mackenzie
97) Assinale a alternativa INCORRETA a respeito das cantigas de amor.
a) O ambiente é
rural ou familiar.
b) O trovador
assume o eu-lírico masculino: é o homem quem fala.
c) Têm origem
provençal.
d) Expressam a
"coita" amorosa do trovador, por amar uma dama inacessível.
e) A mulher é
um ser superior, normalmente pertencente a uma categoria social mais elevada
que a do trovador.
9. (Mackenzie
98) Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é INCORRETO afirmar que:
a) refletiu o
pensamento da época, marcada pelo teocentrismo, o feudalismo e valores
altamente moralistas.
b) representou
um claro apelo popular à arte, que passou a ser representada por setores mais
baixos da sociedade.
c) pode ser
dividida em lírica e satírica.
d) em boa parte
de sua realização, teve influência provençal.
e) as cantigas
de amigo, apesar de escritas por trovadores, expressam o eu-lírico feminino.
10. (Unesp 89) Assinale a
alternativa INCORRETA com relação à Literatura Portuguesa:
a) O ambiente das cantigas de amor é
sempre o palácio, com o trovador declarando seu amor por uma dama (tratada de
"senhor", isto é, senhora). Daí o relacionamento respeitoso, cortês,
dentro dos mais puros padrões medievais que caracterizam a vassalagem, a
servidão amorosa.
b) o teatro vicentino é basicamente
caracterizado pela sátira, criticando o comportamento de todas as camadas
sociais: a nobreza, o clero e o povo. Gil Vicente não tem preocupação de fixar
tipos psicológicos, e sim a de fixar tipos sociais.
c) o marco inicial do Romantismo em
Portugal é a publicação do poema "Camões". Todavia, a nova estética
literária só viria a se firmar uma década depois com a Questão Coimbrã, quando
se aceitou o papel revolucionário da nova poesia e a independência dos novos
poetas em relação aos velhos mestres.
d) Eça de Queirós, em sua obra,
dedica-se a montar um vasto painel da sociedade portuguesa, retratada em seus
múltiplos aspectos: a cidade provinciana; a influência do clero; a média e a
alta burguesia de Lisboa; os intelectuais e a aristocracia.
e) A mais rica,
densa e intrigante faceta da obra de Fernando Pessoa diz respeito ao fenômeno
da heteronímia que deu aos poetas Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de
Campos biografias, características, traços de personalidade e formação cultural
diferentes.