sábado, 9 de fevereiro de 2013

Site de Literatura

Esta site apresenta as escolas literárias brasileiras do Quinhentismo ao Romantismo e suas relações com a Literatura Europeia. Ele oferece também material didátido e questões para quem está se preparando para o vestibular: Só Literatura

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

When the Music Stopped

Matéria do jornal New York Times  sobre a cobertura da imprensa brasileira na tragédia de Santa Maria, revela ao estrangeiro o que nós já estamos cansados de viver na pele: o melhor e o pior da cultura brasileira.

http://www.nytimes.com/2013/01/31/opinion/after-the-brazil-nightclub-fire.html?_r=2&

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

CHICO CARUSO: As reações contra a sua charge sobre a tragédia de Santa Maria

CHICO CARUSO: As reações contra a sua charge sobre a tragédia de Santa Maria/RS

http://palavrastodaspalavras.wordpress.com/author/palavrastodaspalavras/ 


Charge faz com que repensemos várias questões sobre a liberdade de imprensa:
  • deve haver ou não alguma espécie de censura?
  • podemos fazer humor com o horror? ou o humor deveria limitar seus temas?
  • o artista pode ou não ser responsabilizado pela crueldade humana que ele denuncia?
  • a Arte ou qualquer forma de expressão deve ou não estar vinculada à ética?

  • alguns autores de obras literárias, que em outros tempos simplesmente retratavam o senso comum de uma sociedade inteira, hoje são taxados de racistas. Em que medida o comediante, o cartunista pode ser individualmente responsabilizado pelo individualismo exacerbado inerente à toda sociedade capitalista?
Para saber de mais detalhes sobre o ocorrido: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/01/130129_santamaria_live2.shtml

Contribuam com o seu ponto de vista:

sábado, 26 de janeiro de 2013

Com quanto amor?

Salvador Dalí – Apparition of the Visage of Aphrodite of Cnidos in a Landscape

“Não há nada, neste momento,
Mais importante no mundo
Do que encontrar você!”
Falou o rapaz à futura amante.



Mas nada fez para tocar-lhe a branca tez.
Só se deixou conduzir passivamente guiado,
Para longe de onde tudo lembrasse
Aos dois que isso era pecado.



Sem dizer nada, ela doou-lhe
a alma até então imaculada:
Mentiu, roubou, fugiu, saltou a janela escancarada.
Por tudo isso foi espancada!


Ainda desafiou ordens estabelecidas.
Para seu antigo mundo morreu
E correu em direção ao que mais
Queria no mundo naquele instante
E ele, sem sobressaltos, a recebeu!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Vestibular 2013 Fuvest:Acesse a correção comentada dos três dias da segunda fase

Encerrou ontem, 08 de janeiro, a segunda fase do Vestibular 2013 da Fuvest. A abstenção do último dia de exame foi a mais alta de toda a segunda etapa e maior também do que a registrada no ano anterior, quando 9,03 % dos candidatos não compareceram as provas.
Entre 31.182 candidatos aprovados na primeira fase, 2.651 (8,5%) não compareceram às provas de domingo, 2.793 (8,96%) faltaram aos exames de segunda-feira e 2.894 (9,28%) deixaram de fazer as provas de ontem. O colégio Oficina do Estudante, de Campinas, disponibilizou a correção comentada dos três dias de provas da segunda fase.

Faça download das provas comentadas:  FUVEST 2013

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A Divina Comédia - Dante Alighieri


Divina Comédia IX, Gustave Doré
Divina Comédia IX, Gustave Doré

E a ambos me dirigindo, eu disse, atento:
"Francisca, a triste história que narraste
move-me ao pranto e a grande sofrimento.

Revela-me a razão porque passaste
do puro anelo e do inocente amor
à culpa amarga que tão cedo expiaste".

"Não existe", falou-me, "maior dor
que recordar, no mal, a hora feliz;
e bem o sabe, creio, esse doutor.

Mas já que o nosso amor desde a raiz
ansiosamente queres conhecer,
narrá-lo vou, como quem chora e diz.


Estávamos um dia por lazer
de Lancelote a bela história lendo,
sós e tranqüilos, nada por temer.

Às vezes um para o outro o olhar erguendo,
nossa vista tremia, perturbada;
e a um ponto fomos, que nos foi vencendo.


Divina Comédia - Inferno - Canto V, Gustave Doré
Divina Comédia - Inferno - Canto V, Gustave Doré
Ao ler que, perto, a boca desejada
sorria, e foi beijada pelo amante,
este, de quem não fui mais apartada,
os lábios me beijou, trêmulo, arfante.
Galeoto achamos nós no livro e autor:
e nunca mais foi a leitura adiante
Enquanto aquela sombra o triste amor
lembrava, a outra gemia em desconforto;
e quase à morte eu fui, de tanta dor.
E caí, como cai um corpo morto.*
* Fonte: Prof. Dr. Sílvio Medeiros e o link para o site www.recantodasletras.com.br/autores/silviomedeiros.
Bernardo  e Francesca

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A conferência dos pássaros*



"Eu conheci um coveiro muito velho e lhe perguntei:

_Você que passou a vida a cavar sepulturas, o que você viu de maravilhoso?

_O que eu vi de maravilhoso _ ele respondeu_ é que durante 70 anos eu cavei sepulturas e nunca enterrei os meus sonhos."




*A conferência dos pássaros (Mantiq ut-tair) foi escrita pelo poeta persa do século XII, Farid ud-Din Attar, um dos maiores sufis de todos os tempos.Conquanto pouco se saiba, com certeza, a respeito da sua vida, parece que nasceu em 1120, perto de Nishapur, no noroeste da Pérsia. Durante quase quarenta anos viajou por muitos países, estudando em mosteiros e colecionando os escritos de sufis devotos,juntamente com lendas e histórias. Diz-se que possuía um conhecimento mais profundo das idéias sufistas do que qualquer outra pessoa do seu tempo. A tradução para o inglês de C. S. Nott baseia-se na conhecida edição francesa, em prosa, de Garcin de Tassy, aversão que melhor transmite “o sabor, o espírito e os ensinamentos do poema de Attar”.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Mar Salgado: Galeria

Mar Salgado: Galeria: Artes visuais -  Samantha Zaza  -  Viciada em Arte Global Artes plásticas-  Memórias e Imagens Música Artes Cênicas-  Abram-se os...

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Se se morre de amor!


Gonçalves Dias


 Meere und Berge und Horizonte zwischen

den Liebenden - aber die Seelen versetzen

sích aus dem staubigen Kerker und treffen

sich im Paradiese der Liebe.

Schiller, Die Rüuber



Se se morre de amor! — Não, não se morre,

Quando é fascinação que nos surpreende

De ruidoso sarau entre os festejos;

Quando luzes, calor, orquestra e flores

Assomos de prazer nos raiam n'alma,

Que embelezada e solta em tal ambiente

No que ouve, e no que vê prazer alcança!



Simpáticas feições, cintura breve,

Graciosa postura, porte airoso,

Uma fita, uma flor entre os cabelos,

Um quê mal definido, acaso podem

Num engano d'amor arrebatar-nos.

Mas isso amor não é; isso é delírio,

Devaneio, ilusão, que se esvaece

Ao som final da orquestra, ao derradeiro



Clarão, que as luzes no morrer despedem:

Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,

D'amor igual ninguém sucumbe à perda.

Amor é vida; é ter constantemente

Alma, sentidos, coração — abertos

Ao grande, ao belo; é ser capaz d'extremos,

D'altas virtudes, té capaz de crimes!

Compr'ender o infinito, a imensidade,

E a natureza e Deus; gostar dos campos,

D'aves, flores, murmúrios solitários;

Buscar tristeza, a soledade, o ermo,

E ter o coração em riso e festa;

E à branda festa, ao riso da nossa alma

Fontes de pranto intercalar sem custo;

Conhecer o prazer e a desventura

No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto

O ditoso, o misérrimo dos entes;

Isso é amor, e desse amor se morre!



Amar, e não saber, não ter coragem

Para dizer que amor que em nós sentimos;

Temer qu'olhos profanos nos devassem

O templo, onde a melhor porção da vida

Se concentra; onde avaros recatamos

Essa fonte de amor, esses tesouros

Inesgotáveis, d'ilusões floridas;

Sentir, sem que se veja, a quem se adora,

Compr'ender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,

Segui-la, sem poder fitar seus olhos,

Amá-la, sem ousar dizer que amamos,

E, temendo roçar os seus vestidos,

Arder por afogá-la em mil abraços:

Isso é amor, e desse amor se morre!



Se tal paixão porém enfim transborda,

Se tem na terra o galardão devido

Em recíproco afeto; e unidas, uma,

Dois seres, duas vidas se procuram,

Entendem-se, confundem-se e penetram

Juntas — em puro céu d'êxtases puros:

Se logo a mão do fado as torna estranhas,

Se os duplica e separa, quando unidos

A mesma vida circulava em ambos;



Que será do que fica, e do que longe

Serve às borrascas de ludíbrio e escárnio?

Pode o raio num píncaro caindo,

Torná-lo dois, e o mar correr entre ambos;

Pode rachar o tronco levantado

E dois cimos depois verem-se erguidos,

Sinais mostrando da aliança antiga;

Dois corações porém, que juntos batem,

Que juntos vivem, — se os separam, morrem;

Ou se entre o próprio estrago inda vegetam,

Se aparência de vida, em mal, conservam,

Ânsias cruas resumem do proscrito,

Que busca achar no berço a sepultura!



Esse, que sobrevive à própria ruína,

Ao seu viver do coração, — às gratas

Ilusões, quando em leito solitário,

Entre as sombras da noite, em larga insônia,

Devaneando, a futurar venturas,

Mostra-se e brinca a apetecida imagem;

Esse, que à dor tamanha não sucumbe,

Inveja a quem na sepultura encontra

Dos males seus o desejado termo!



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Poesia II
Ainda uma vez_Adeus!

Noite na Taverna


Português: O escritor brasileiro Álvares de Az...
Português: O escritor brasileiro Álvares de Azevedo (falecido em 1852). (Photo credit: Wikipedia)
NOITE NA TAVERNA
Álvares de Azevedo
MACÁRIO
Onde me levas?
SATAN
A uma orgia. Vais ler uma página da vida, cheia de sangue e de vinho—que importa?
MACÁRIO
Eu vejo-os. É uma sala fumacenta. A roda da mesa estão sentados cinco homens ébrios. Os mais revolvem-se no chão. Dormem ali mulheres desgrenhadas, umas lívidas, outras vermelhas Que noite!
How now, Horatio? you tremble, and look pale. Is not this something more than fantasy? What think you on's?
Hamlet. Ato I
JOB STERN
UMA NOITE DO SÉCULO
Bebamos! nem um canto de saudade! Morrem na embriaguez da vida as cores! Que importam sonhos, ilusões desfeitas? Fenecem como as flores!
José Bonifácio
— Silêncio! moços!! acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da volúpia??
—Cala-te, Johann! enquanto as mulheres dormem e Arnold—o loiro—cambaleia e adormece murmurando as canções de orgia de Tieck, que musica mais bela que o alarido da saturnal? Quando as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos errantes, e a lua desmaia como a luz de uma lâmpada sobre a alvura de uma beleza que dorme, que melhor noite que a passada ao reflexo das tachas?
—És um louco, Bertram! não e a lua que lá vai macilenta: e o relâmpago que passe e ri de escárnio as agonies do povo que morre, aos soluços que seguem as mortalhas do cólera!
—O cólera! e que importa? Não há por ora vida bastante nas veias do homem? não borbulha a febre ainda as ondas do vinho? não reluz em todo o seu fogo a lâmpada da vida na lanterna do crânio?
—Vinho! vinho! Não vês que as taças estão vazias bebemos o vácuo, como um sonâmbulo?
—E o Fichtismo na embriguez! Espiritualista, bebe a imaterialidade da embriaguez!
—Oh! vazio meu copo esta vazio! Olá taverneira, não vês que as garrafas estão esgotadas? Não sabes, desgraçada, que os lábios da garrafa são como os da mulher: só valem beijos enquanto o fogo do vinho ou o fogo do amor os borrifa de lava?
Encontre aqui a obra completa: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000023.pdf

O AMANTE


É um homem que tem hábitos, penso de repente, deve vir com relativa frequência a este quarto, é um homem que deve fazer muito amor, um homem que tem medo, deve fazer muito amor para lutar contra o medo. Eu lhe digo que gosto da ideia de que ele tenha muitas mulheres, de estar entre estas mulheres, confundida entre elas. Nos olhamos. Ele entende o que acabo de dizer. O olhar subitamente alterado, desfocado, arrebatado, a morte.

Digo que venha, que ele deve me tomar de novo. Ele vem. Ele cheira bem, a cigarro inglês, a perfume caro, ele cheira a mel, sua pele adquiriu à força o cheiro da seda, o perfume frutado do tussor de seda, do ouro, ele é desejável. Eu lhe falo desse desejo por ele. E fala, diz que soube imediatamente, desde a travessia do rio, que eu seria assim após meu primeiro amante, que eu amaria o amor, diz que já sabe que eu o enganarei e que enganarei também todos os homens com quem estiver. Diz que, quanto a si, ele foi o instrumento de sua própria desgraça. Fico feliz com tudo que ele me anuncia e lhe digo. Ele se torna brutal, seu sentimento é desesperado, ele se atira sobre mim, come os seios de criança, grita, insulta. Penso: está acostumado a isso, é o que faz na vida, o amor, só isso. As mãos são experientes, maravilhosas, perfeitas.É como uma profissão que ele tivesse, sem saber ele teria a exata noção do que deve fazer, do que deve dizer. Ele me chama de puta, de nojenta, diz que sou seu único amor, e é isso o que ele deve dizer e é isso o que se diz quando se deixa o dizer acontecer, quando se deixa o corpo fazer e buscar e encontrar e tomar o que quer, e aí tudo é bom, não há restos, os restos são recobertos, tudo arrastado pela torrente, pela força do desejo.“O Amante”, Marguerite Duras


domingo, 9 de dezembro de 2012

Quatro Traduções do Poema "The Tyger" de William Blake


The artist and poet William Blake, who lived i...
The artist and poet William Blake, who lived in Hercules Road — a portrait by Thomas Phillips (1807). (Photo credit: Wikipedia)

THE TYGER - William Blake

Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?
In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?H
On what wings dare he aspire?
What the hand, dare seize the fire?
And what shoulder & what art,
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand & what dread feet?
What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? what the grasp
Dare its deadly terrors clasp?
When the stars threw down their spears,
And water'd heaven with their tears,
Did he smile his work to see?
Did he who made the Lamb make thee?
Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?



Tradução de Augusto de Campos:
O TYGRE
Tygre! Tygre! Brilho, brasa
que a furna noturna abrasa,
que olho ou mão armaria
tua feroz symmetrya?
Em que céu se foi forjar
o fogo do teu olhar?
Em que asas veio a chamma?
Que mão colheu esta flamma?
Que força fez retorcer
em nervos todo o teu ser?
E o som do teu coração
de aço, que cor, que ação?
Teu cérebro, quem o malha?
Que martelo? Que fornalha
o moldou? Que mão, que garra
seu terror mortal amarra?
Quando as lanças das estrelas
cortaram os céus, ao vê-las,
quem as fez sorriu talvez?
Quem fez a ovelha te fez?
Tygre! Tygre! Brilho, brasa
que a furna noturna abrasa,
que olho ou mão armaria
tua feroz symmetrya?


Tradução de José Paulo Paes:
O TYGRE
Tygre, Tygre, viva chama
Que as florestas de noite inflama,
Que olho ou mão imortal podia
Traçar-te a horrível simetria?
Em que abismo ou céu longe ardeu
O fogo dos olhos teus?
Com que asas atreveu ao vôo?
Que mão ousou pegar o fogo?
Que arte & braço pôde então
Torcer-te as fibras do coração?
Quando ele já estava batendo,
Que mão & que pés horrendos?
Que cadeia? que martelo,
Que fornalha teve o teu cérebro?
Que bigorna? que tenaz
Pegou-te os horrores mortais?
Quando os astros alancearam
O céu e em pranto o banharam,
Sorriu ele ao ver seu feito?
Fez-te quem fez o Cordeiro?
Tygre, Tygre, viva chama
Que as florestas da noite inflama,
Que olho ou mão imortal ousaria
Traçar-te a horrível simetria?



Tradução de Vasco Graça Moura (Portugal):
tigre, tigre, chama pura
nas brenhas da noite escura,
que olho ou mão imortal cria
tua terrível simetria?
de que abismo ou céu distante
vem tal fogo coruscante?
que asas ousa nesse jogo?
e que mão se atreve ao fogo?
que ombro & arte te armarão
fibra a fibra o coração?
e ao bater ele no que és,
que mão terrível? que pés?
e que martelo? que torno?
e o teu cérebro em que forno?
que bigorna? que tenaz
pro terror mortal que traz?
quando os astros lançam dardos
e seu choro os céus põem pardos,
vendo a obra ele sorri?
fez o anho e fez-te a ti?
tigre, tigre, chama pura
nas brenhas da noite escura,
que olho ou mão imortal cria
tua terrível simetria?



Tradução de Alberto Marsicano e John Milton:
O TIGRE
Tigre! Tigre! Luz brilhante
nas florestas da noite,
Que olho ou mão imortal ousaria
Criar tua terrível simetria?
Em que céus ou abismos
Flamejou o fogo de teus olhos?
Sobre que asas ousou se alçar?
Que mão ousou esse fogo tomar?
E que ombro & que saber
Foram as fibras do teu coração torcer?
E o primeiro pulso de teu coração
Que pé ou terrível mão?
Que martelo, que corrente?
Que forno forjou tua mente?
Que bigorna? Que punho magistral
Captou teu terror mortal?
Quando os astros arrojam seus raios,
cobrindo de lágrimas os céus,
Sorriu ao sua obra contemplar?
Quem te criou o cordeiro foi criar?
Tigre! Tigre! Luz brilhante
Nas florestas da noite,
Que olho ou mão imortal ousaria
Criar tua rerrível simetria?



Veja também a tradução de Ivo Barroso em seu blog

O CORTIÇO-Trecho em que Pombinha é seduzida por Leoni:


Português: O escritor brasileiro Aluísio Azeve...
Português: O escritor brasileiro Aluísio Azevedo (1857-1913) (Photo credit: Wikipedia)

Trecho em que Pombinha é seduzida por Leoni:
"Bem! Agora estavam perfeitamente a sós!
– Vem cá, minha flor!... disse-lhe, puxando-a contra si e deixando-se cair sobre um divã. Sabes? Eu te quero cada vez mais!... Estou louca por ti!E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que sufocavam a menina, enchendo-a de espanto e de um instintivo temor, cuja origem a pobrezinha, na sua simplicidade, não podia saber qual era.A cocote percebeu o seu enleio e ergueu-se, sem largar-lhe a mão.– Descansemos nós também um pouco... propôs, arrastando-a para a alcova.Pombinha assentou-se, constrangida, no rebordo da cama e, toda perplexa, com vontade de afastar-se, mas sem ânimo de protestar, por acanhamento, tentou reatar o fio da conversa, que elas sustentavam um pouco antes, à mesa, em presença de Dona Isabel. Léonie fingia prestar-lhe atenção e nada mais fazia do que afagar-lhe a cintura, as coxas e o colo. Depois, como que distraidamente, começou a desabotoar-lhe o corpinho do vestido.– Não! Para quê!... Não quero despir-me...– Mas faz tanto calor... Põe-te a gosto...– Estou bem assim. Não quero!– Que tolice a tua...! Não vês que sou mulher, tolinha?... De que tens medo?... Olha! Vou dar exemplo!E, num relance, desfez-se da roupa, e prosseguiu na campanha.A menina, vendo-se descomposta, cruzou os braços sobre o seio, vermelha de pudor.– Deixa! segredou-lhe a outra, com os olhos envesgados, a pupila trêmula.E, apesar dos protestos, das súplicas e até das lágrimas da infeliz, arrancou-lhe a última vestimenta, e precipitou-se contra ela, a beijar-lhe todo o corpo, a empolgar-lhe com os lábios o róseo bico do peito.– Oh! Oh! Deixa disso! Deixa disso! reclamava Pombinha estorcendo-se em cócegas, e deixando ver preciosidades de nudez fresca e virginal, que enlouqueciam a prostituta.– Que mal faz?... Estamos brincando...– Não! Não! balbuciou a vítima, repelindo-a.– Sim! Sim! insistiu Léonie, fechando-a entre os braços, como entre duas colunas; e pondo em contato com o dela todo o seu corpo nu.Pombinha arfava, relutando; mas o atrito daquelas duas grossas pomasirrequietas sobre seu mesquinho peito de donzela impúbere e o rogar vertiginoso daqueles cabelos ásperos e crespos nas estações mais sensitivas da sua feminilidade, acabaram por foguear-lhe a pólvora do sangue, desertando-lhe a razão ao rebate dos sentidos.Agora, espolinhava-se toda, cerrando os dentes, fremindo-lhe a carne em crispações de espasmo; ao passo que a outra, por cima, doida de luxúria, irracional, feroz, revoluteava, em corcovos de égua, bufando e relinchando.E metia-lhe a língua tesa pela boca e pelas orelhas, e esmagava-lhe os olhos debaixo dos seus beijos lubrificados de espuma, e mordia-lhe o lóbulo dos ombros, e agarrava-lhe convulsivamente o cabelo, como se quisesse arrancá-lo aos punhados. Até que, com um assomo mais forte, devorou-a num abraço de todo o corpo, ganindo ligeiros gritos, secos, curtos, muito agudos, e afinal desabou para o lado, exânime, inerte, os membros atirados num abandono de bêbedo, soltando de instante a instante um soluço estrangulado." Aluísio Azevedo


Adaptação do livro O cortiço para história em quadrinhos



sábado, 8 de dezembro de 2012

Cantiga sua partindo-se, Cancioneiro Geral


English: Picture of a page from the Portuguese...
English: Picture of a page from the Portuguese Renaissance Belém songbook. Português: Imagem de uma página do cancioneiro português renascentista, Cancioneiro de Belém (Photo credit: Wikipedia)

Joam Roiz de Castel-Branco

Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
      
Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes,
tão fora d' esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Cacida da Mulher Estendida



English: Lorca in white/Lorca en blancmyrtle l...
English: Lorca in white/Lorca en blancmyrtle looking (Photo credit: Wikipedia)
Federico Garcia Lorca
Federico Garcia Lorca (Photo credit: Barquisimeto - Ciudad Crepuscular)
Frederico Garcia Lorca


Despida ver-te é recordar a terra.
A terra lisa, limpa de cavalos.
A terra sem um junco, forma pura
ao futuro cerrada: argêntea fímbria.

Despida ver-te é compreender a ânsia
da chuva que procura débil talhe,
ou a febre do mar de imenso rosto
sem a luz encontrar de sua face.

O sangue soará pelas alcovas
e virá com espada fulgurante,
mas tu não saberás onde se oculta
o coração de sapo ou a violeta.

Teu ventre é uma luta de raízes,
teus lábios, uma aurora sem contorno,
por sob as rosas tépidas da cama
os mortos gemem esperando vez.



Federico García Lorca, in 'Divã do Tamarit'
Tradução de Oscar Mendes

Pauliceia Desvairada-Quando eu morrer quero ficar




Mario de Andrade

Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,

English: Brazilian poet Mário de Andrade (far ...
English: Brazilian poet Mário de Andrade (far left) during his travel through Amazon rainforest, 1927. (Photo credit: Wikipedia)

Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

Por-do- sol no Pico do Jaraguá

Nobel de Literatura diz que censurar às vezes é preciso


O Prêmio Nobel de Literatura deste ano, Mo Yan, comparou nesta quinta-feira a censura às averiguações de segurança realizadas nos aeroportos pelo mundo, sugerindo se tratar de um ato desagradável, mas necessário. Os comentários do escritor chinês foram feitos em Estocolmo, onde receberá na próxima semana o Nobel de Literatura.
Mo Yan, primeiro escritor chinês a ser agraciado com o Nobel, disse não acreditar que a censura deva ser usada para impedir a divulgação da verdade, mas pode ser empregada - e às vezes chega a ser necessária - para impedir a disseminação de rumores e de difamações. As informações são da Associated Press.

Chinês premiado com Nobel se recusa a pedir libertação de dissidente



Reuters

O escritor chinês Mo Yan, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura 2012, não quis nesta quinta-feira fazer um apelo direto pela libertação de seu compatriota Liu Xiaobo, Prêmio Nobel da Paz em 2010, e disse que não apoiaria uma petição pela liberdade dele.

Um grupo de 134 laureados com o Nobel, incluindo o Dalai Lama, escreveu para o próximo líder do Partido Comunista Chinês e também presidente eleito da ChinaXi Jinping, pedindo que ele libertasse Liu e a mulher dele.

O caso de Liu chamou a atenção para a situação dos direitos humanos na China, embora o governo chinês diga que Liu é um criminoso e qualifique esse tipo de crítica como interferência indevida em seus assuntos internos.

Mo, cujo nome adotado literariamente, Mo Yan, significa "não falo", se recusou a manifestar apoio a Liu.

"Já dei minha opinião sobre esse assunto. Eu disse que este prêmio é de literatura. Não é de política", declarou o escritor em entrevista à imprensa em Estocolmo, dias antes da cerimônia de entrega.

Em outubro, depois do anúncio da premiação, Mo disse esperar que Liu obtivesse sua libertação o mais rápido possível.

"Tenho certeza que vocês sabem o que eu disse naquele dia (em outubro). Por que vocês querem repetir isso?", indagou.

Para ler a matéria inteira: Estado de São Paulo

A luta poética de Décio Pignatari


Décio Pignatari
Décio Pignatari

AE - Agência Estado

A morte do poeta Décio Pignatari, domingo, aos 85 anos, de infecção pulmonar, após longa convalescença, sofrendo do mal de Alzheimer, provoca um vazio na literatura brasileira, que ganhou com ele e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos direito a ingresso no exclusivo grupo concreto internacional, não só no campo poético como visual e musical (durante os anos 1950 ele viveu na Europa, sendo próximo de artistas como o maestro Pierre Boulez). Grande momento da arte brasileira no século 20, o concretismo recebeu impulso enorme das criações literárias de Décio, cujos poemas visuais ajudaram a formatar a estética dos artistas do grupo Ruptura nos anos 1950, que forçaram a entrada do Brasil no campo da abstração pictórica.


Nascido em Jundiaí e formado pela Faculdade de Direito da USP, Décio começou sua carreira literária como poeta, em 1949, ao lado dos irmãos Campos, igualmente figuras fundamentais para o advento do concretismo no Brasil e presentes nos principais movimentos culturais dos anos 1950 em diante, inclusive no Tropicalista, nos anos 1960. No ano da realização da 1ª. Bienal Internacional de São Paulo, 1951, Décio rompeu com os poetas da geração de 1945 e fundou, no ano seguinte, o grupo Noigrandes com os irmãos Campos, dedicado à renovação da linguagem poética brasileira.

Poesia concreta
Poesia concreta

Para continuar lendo esse texto: O Estado de São Paulo